O maior inimigo daquele que conquista grandes feitos é o medo de falhar e sua falha vir a se tornar evidência de sua mediocridade. Ou seja: ser grande requer desapego do destino e amor à jornada. No caso do Homem de Hamjadahl, esta dinâmica se altera levemente, pois tendo conhecido nada além do néctar da vitória, a possibilidade de derrota sequer passa por sua mente.
Na realidade, derrota não existe em seu vocabulário, pois foi substituída integralmente pelo aprendizado. Clássica é a fábula do primeiro tijolo posto pelo Hamjadahlense original na colossal estrutura dedicada à vontade humana, erguida no centro de Hamjadahl. Num dia qualquer, o Homem de Hamjadahl ponderava as artes e, inspirado, resolveu criar algo. Ele tinha interesse pela pintura e pela música, porém elegeu a arquitetura como base para sua obra.
Ele não sabia por onde começar, sabia apenas que tinha um desejo queimando em si. Outros passavam ao seu redor e, como parecia ponderar algo importante, perguntavam-lhe o que queria. Ele explicava tudo e os outros seguiam a berrar todos os obstáculos.
O Homem de Hamjadahl não era estranho às dificuldades, apenas as aceitava como parte natural do processo. A certo ponto, contudo, tantos haviam se juntado para procrastinar suas ambições que ele se arrependeu de tê-las exposto. Não viu maneira de começar naquele mesmo sol.
No dia seguinte, longe de outros, ele focou em duas coisas: calar e fazer. Calou a boca e calou a mente, assim calando os outros; fez o que sabia fazer, empilhou um bloco de concreto em cima do outro.
No dia seguinte, fez o mesmo.
No dia seguinte, fez o mesmo.
No dia seguinte, fez o mesmo.
Tempo suficiente passou para que, de repente, arcos e janelas surgissem em inabaláveis paredes de concreto. Todos os que passavam pelo centro de Hamjadahl se perguntavam em que momento aquilo, tão pouco havia, se tornado tanto. Ninguém além do Homem de Hamjadahl sabia a resposta. Quando lhe perguntavam, ele falava do que era do mundo, mas calava do que era seu.
Quando terminou sua obra, o Homem de Hamjadahl não sabia ao certo onde estava o primeiro bloco que pusera, mas tinha certeza de que fora o único a lhe desafiar.
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