Certo dia, o Homem de Hamjadahl precisou lidar com a burocracia do Estado. Sua vila era pequena e não havia forma de resolver o assunto sem se aventurar até a capital. Sabendo disso, ele juntou todo o material e conhecimento disponível para retornar com sucesso ao lar, porque poucas coisas são mais vergonhosas do que tirar um mês para resolver um problema e não conseguir se desemaranhar das grudentas armadilhas que o serviço público atira na direção geral do homem médio.
Ele perguntou aos anciãos de Hamjadahl como deveria prosseguir em cenários diversos e frustrantes, pois o Homem de Hamjadahl reconhecia que, tendo vivido mais, os desprovidos de cabelo são lotados de sabedoria, se não dos livros, do mundo.
Antes de partir também participou de rituais de sua religião e rezou, porque o Homem de Hamjadahl sabe que não é sem paciência e fé que se obtêm êxito ante a máquina estatal, perpetuamente faminta pelo sofrimento humano. Então, ele partiu.
Uma vez que chegou lá, onde quer que “lá” fosse, sofreu, desesperou-se, enfureceu-se e até chorou, porque quando toda a poeira baixa e toda a fumaça sobe, Homem de Hamjadahl ainda é apenas um homem.
E esse homem esperou vinte anos, talvez esperasse por mais vinte se não houvesse o problema que engendrou o reclame se resolvido sozinho.
O Homem de Hamjadahl não pensou mal do Estado. Muito pelo contrário, sentiu ter recebido uma grande lição: na inação também há eficiência e não seria essa a maior benesse da paciência.
Irônico:
a mesma paciência necessária para lidar com a burocracia é aquela que dá às
aparentemente desnecessárias idas e vindas da atuação pública um foco no que
não pode ser resolvido de outra maneira. Quanta sabedoria, talvez seja por isso
que o Estado possui menos cabelos que qualquer um dos anciãos
de Hamjadahl. Nenhum, na verdade. Realmente sábio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário