quinta-feira, abril 04, 2024

Todos amam Guilty Gear -STRIVE-

    Pouco antes da Covid-chan nos agraciar com uma reprise do século XIII, edição peste negra, ArcSystemWorks anunciou no palco da EVO 2019 o novo jogo da fanfic mais intensa já escrita por um japonês fã de rock: Guilty Gear -STRIVE-. 

 

 
 

     Muitas perguntas vem à mente depois de um teaser desses: 

    Quem é esse galego elétrico? minha amiga perguntou se ele quer sair pra jantar; como assim, ele é gay? Quer ficar comigo, então?

    Quem é esse homem de meia-idade tentando reviver as calças de boca de sino e por que a luva dele tem cintos e os cintos dele tem outros cintos?

    Por que eles estão lutando nas periferias de Paudalho ao som de um rock pesado, eu ouvi "THIS IS BULLSHIT BLAZING" na música mesmo?

    Quem é esse samurai negro cyberpunk misterioso? Ah, ele é um vampiro também...?

    Quando vou poder ler essa fanfic? Digo... jogar esse jogo?

    Passaram-se alguns anos. Um, para ser mais específico, e resolvi comprar o jogo depois de algum tempo ponderando se deveria investir em um jogo de luta. A reputação que esse gênero tem é infame: você vai para uma festa, uma pequena reunião, um clube do livro e, depois das atividades, senta na sala de estar para relaxar um pouco e uma criança surge deus-sabe-de-onde perguntando se você quer jogar [um jogo de luta]. Você aceita, você é um gamer, você sabe que vai amassar esse protótipo de ser humano, mas na hora em que o pivete te acerta com um combo de 28 hits você diz "não entendo jogos de luta".

    Faz sentido. Da mesma forma que um gato não entende o motivo de alguns bípedes vocalizarem "pspsps~" do nada, o gamer médio não conhece as intrincadas porém simples regras dos fighting games (inglês para "vou embora, aliás, vi teu menino vendendo cocaína na porta da escola").

    Porém, apesar de todos os estigmas, eu estava dedicado a aprender, porque uma personagem me chamou a atenção e, conforme eu iria descobrir no futuro, isso é tudo o que importa.

    

 
 
 
     Não preciso descrever o apelo dela, com certeza os leitores possuem olhos e possuem bom gosto, mas vou me debruçar sobre as qualidades dessa arma de destruição em massa em formato de garota de anime. Para começar: essas duas espadas são gigantes. Sim, são enormes. São colossais. É a primeira vez que digo ter dois grandes motivos para me interessar por uma mulher e não me refiro aos olhos dela. Ela flutua, é um plus. Fora isso, a lore dela se decanta em ser autista, amar hambúrgueres e não ter destruído a Terra porque descobriu o poder da amizade. Ela deve ter visto Fairy Tail.

    Ok, temos a personagem. Mas e a substância? O que há nesses vários zeros e uns que toca a alma? Ora, música, é claro. Você pode pensar que está comprando um jogo de luta, mas é muito fácil argumentar que o verdadeiro amor dos desenvolvedores é o Rock n' Roll. Cada personagem tem um tema e cada tema tem um gênero e todos eles têm um riff de guitarra envenenado por trás de um inglês tão quebrado pelo sotaque japonês que você chega a se perguntar se é proposital.

 


   
 
 
 

    Além disso, Guilty Gear satisfaz aquele desejo secreto de participar de uma luta de anime para a qual o protagonista treinou durante três ou quatro episódios. Acontece que às vezes você é o vilão despreparado, mas está tudo bem, porque quanto você descobre que o oponente não sabe lidar com um ataque específico é como a situação de encontrar uma nota de cem reais na rua: inesperada, fácil, engraçada e você se imagina invencível. "Pereça, tolo".

    Mas e as questões reais e importantes? E os comentários sobre a sociedade? Temos.

    Aqui está.

 


    O que você sente ao ver essa personagem? Nada em particular? Vou te dizer o que eu sinto: meu sistema nervoso se preparando para um debate moderno sobre disforia, transfobia e quarenta horas cantando o hino transgênero de todos os gamers.

    Isso, mesmo, a Bridget é GAY! Quero, dizer, TRANS! Talvez ela seja gay também, tenho aprendido muito. Sabiam que mulheres transgênero tem ataques enormes, irritantes e mobilidade acima da média no neutro? Sim, é verdade.

    Há muitos motivos para amar Guilty Gear -STRIVE-, mas acredito que hajam mais motivos ainda para gostar da franquia como um todo. As histórias são ridículas de criativas, a música te obriga a respeitar tudo que culminou nisso e a comunidade é definitivamente uma comunidade. Não só GG, mas jogos de luta como um todo são uma jornada que começa e termina no coração do jogador. 

    É simples, é prático, só requer duas pessoas dispostas a engajar numa batalha intelectual, cria uma comunidade animada para compartilhar estratégias, histórias e momentos únicos. Tem o formato perfeito para campeonatos, mas acomoda jogadores casuais com toda a cultura que vem junto. P.S.: Não é xadrez.

    

 
 
 

    Agora vão lá e façam um crime, quero dizer, joguem Guilty Gear.

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